“O consumidor precisa considerar a qualidade desse produto da mesma forma que considera a cerveja, a carne ou os legumes utilizados em um churrasco”, aponta o especialista.
O Brasil é o maior produtor e, ao mesmo tempo, o maior consumidor de carvão vegetal do mundo. Por isso, segundo o pesquisador, essa cadeia produtiva emprega milhares de pessoas, mas é pouco valorizada.
Com orientação do professor José Otávio Brito, do Departamento de Ciências Florestais e colaboração do professor Marcos Milan, do Departamento de Engenharia de Biossistemas, ambos da USP em Piracicaba, Ananias partiu da observação da existência de inúmeras marcas de carvão vegetal comercializado nos estabelecimentos de diferentes categorias.
“Coletamos diversas amostras de carvão vegetal comercializado para churrasco em 50 estabelecimentos de Piracicaba, nos 63 bairros da cidade. Selecionamos rede de supermercados, supermercados independentes, casa de carnes, postos de combustíveis, além de outros pontos comerciais como padarias, quitandas, mercearias e mercados pequenos”, relata o engenheiro florestal.
De início, a pesquisa levantou a hipótese da qualidade do produto estar ligada ao preço. “Nas prateleiras, o preço do produto é muito variável e procuramos verificar se, quanto maior o preço, melhor a qualidade do produto”, diz Ananias.
Outro ponto abordado foi avaliar se o consumidor conhecia razoavelmente o produto, identificando a origem, matéria-prima, aspectos da produção, além de apontar quais as características o carvão deveria possuir para satisfazê-lo.
Segundo o engenheiro florestal, os resultados da pesquisa foram surpreendentes: “Foi levantada a existência de inúmeras marcas de carvão vegetal sendo que, de um ano para outro, poucas se mantiveram no mercado varejista”.
“Outro fato observado foi o de que a qualidade dos produtos não apresentou um comportamento bem definido e a relação ‘mais caro-melhor qualidade’ não se concretizou, uma vez que os produtos que apresentaram os requisitos legais socioambientais adequados em seu processo produtivo não necessariamente eram os de maior valor”, relata o especialista.
Da interação com o consumidor, as respostas definiram características desejadas para o carvão vegetal, como tamanho das peças, facilidade de acendimento, rendimento de preparo, etc.
“Todavia, na maioria dos casos, os consumidores apontaram a embalagem como uma das principais características para a compra. De acordo com os entrevistados, a presença de alça, embalagens resistentes e acendedores combustíveis são atributos muito relevantes”.
Em contrapartida, observou-se que os consumidores, na maioria das vezes, não consideram os aspectos de produção e de regulamentação para compra, sendo estes muito relevantes para a manutenção da cadeia produtiva do produto.
Relacionado à saúde ocupacional, o estudo detectou a presença de 16 compostos com capacidade nociva, porém esses compostos foram extraídos por uma diluição do carvão em solventes orgânicos.
“Provavelmente durante a queima no churrasco, esses compostos contidos na fumaça sejam degradados pela temperatura atingida no processo. Vale lembrar que a fumaça entra em contato com os alimentos, sendo importante estudos futuros que a caracterize para melhores definições”.
O pesquisador alerta, contudo, que a utilização do carvão vegetal não provoca danos à saúde: “O consumidor precisa estar atento e adquirir produtos que atendam à regulamentação. Respeitando-se isso, vamos continuar fazendo nosso churrasco. Sua valorização resultaria na melhoria de toda a sua cadeia produtiva que, há um bom tempo, vem exigindo atenção especial, por envolver centenas de milhares de agentes, desde a produção até a comercialização”.
Fonte: http://www.foodnewsoficial.com.br/noticias-e-eventos/churrasco/